Introdução
O objetivo desta unidade é abordar o contexto das inovações em tecnologias acessíveis na atualidade e algumas projeções futuras desse campo, a fim de possibilitar uma abrangência dos conhecimentos que permeiam essas áreas, as quais possuem um vasto potencial de desenvolvimento e que influenciam, diariamente, em nossas rotinas de vida. Assim, serão apresentadas algumas inovações tecnológicas no campo das cidades inclusivas, verificando os projetos de algumas cidades brasileiras tidas como referência o conceito de cidades inteligentes.
Os jogos eletrônicos são tecnologias acessíveis a todas as pessoas, justamente pelas constantes inovações apresentadas pelos games. Destaca-se que pessoas com e sem deficiência passam horas do dia jogando. Esse tema será abordado, tendo em vista a sua presença em vários contextos, inclusive no âmbito educacional. Por fim, o cenário das inovações trará as ideias modernas de fusão do homem-máquina e as maneiras como essas tecnologias estão se fundindo ao corpo humano, de forma a trazer uma gama de possibilidades com acessibilidade. Essas inovações estão ocorrendo em diversos setores da sociedade. Desse modo, considerá-las torna-se fundamental para entender o que está acontecendo no contexto social e, a partir disso, se pensar a educação.
Inovações Tecnológicas no Campo das Cidades Inclusivas
A tecnologia assistiva tem modificado a dinâmica da existência daqueles que dela apropriam-se. Essa dinâmica faz com que surjam, cada vez mais, necessidades de inovação nesse campo do conhecimento, sempre agregando, para as novas criações, ideias de inclusão social e de cidadania. Essas inovações estão em constante expansão e abrangem vários campos: mobilidade, cognição, práticas de lazer, qualidade de vida, dentre outros.
Por conseguinte, as cidades tentam incorporar políticas que satisfaçam as demandas que exijam melhorias para a população em geral, visando o conforto e o bem-estar de todos. No cenário das inovações, algumas cidades brasileiras tentam concretizar propostas interessantes, como é o caso de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que desenvolveu um projeto de política de acessibilidade na mobilidade urbana (Pamu-BH). Para isso, utilizam-se de notas técnicas de acessibilidade, que visam apresentar o diagnóstico da política de acessibilidade na mobilidade urbana da cidade. Entre os indicadores existentes, propostas proveitosas de mobilidade foram definidas, tais como: os ônibus com desenho universal, ônibus acessível (ou com acessibilidade), ônibus acessível no embarque/desembarque, ônibus com alguma facilidade, ônibus com embarque exclusivo em nível, ônibus com embarque parcial em nível, ônibus com piso baixo, ônibus com elevador hidráulico e viagens com acessibilidade (NOTA TÉCNICA DE ACESSIBILIDADE, 2016).
Dentre os eixos da mobilidade urbana sustentável do Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (PLANMOB - BH até 2030), está a acessibilidade universal, que visa à acessibilidade no transporte urbano, à acessibilidade em calçadas e travessias e à inclusão social, que apresenta medidas transversais aos outros eixos. O PLANMOB prevê a implantação de tecnologias de informação e comunicação que atendam as necessidades de pessoas com deficiência e idosos até 2025 e tratamento especial para deficientes visuais em travessias semaforizadas até 2020 (PLANMOB-BH, 2017).
Ainda em se tratando de mobilidade urbana nas cidades, Curitiba, cidade situada no Estado do Paraná, implantou a ampliação do tempo de travessia nos semáforos para pessoas com deficiência. O cartão respeito, este criado pela Secretaria Especial da pessoa com deficiência e a Urbs, faz parte do Plano Municipal de Inclusão, lançado em março de 2016. A proposta dos semáforos inteligentes consiste em ampliar o tempo de travessia dos semáforos da cidade, visando uma multiplicação da ação por outros estados. No ano de 2016, o projeto intitulado “Transporte para Inclusão” levou a cidade de Curitiba a concorrer ao prêmio Bloomberg Mayors Challenge. Esse é um prêmio internacional, o qual tem como meta fomentar iniciativas municipais que promovam o desenvolvimento sustentável, visando melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Curitiba concorreu com 290 cidades da América Latina e Caribe e esteve entre as 20 finalistas.
As cidades acessíveis ou cidades inclusivas, para todos, são, de fato, importantes, tendo em vista a intensificação da urbanização dos espaços no século XXI. A expectativa é que as cidades possam ficar cada vez mais acessíveis a todas a pessoas, atendendo, de maneira equânime, aos grupos vulneráveis. Logo, são pensadas cidades autônomas que buscam a formação de uma geografia ambiental, social e cultural para suprir as demandas daquilo que muitos chamam de urbanismo planetário. Contudo, pensar em acessibilidade, sustentabilidade e inclusão, pela perspectiva de cidades autônomas, é tarefa complexa, dada a circunstância de que existem vínculos políticos e econômicos que precisam ser pensados; ademais, tem-se o fato de que as cidades, de maneira geral, não são homogêneas, mas apresentam fraturas em seus diversos contextos sociais, de modo a exigir que a autonomia urbana seja pensada de maneira democrática, visando melhorar a vida dos cidadãos (BULKELEY, ET AL, 2016).
As cidades inclusivas oportunizam acessibilidade em todos os âmbitos sociais, abrangendo os espaços de lazer, fator muito importante, ao ter em vista que esse determinante social da saúde está diretamente relacionado à qualidade de vida das pessoas. São muitos os equipamentos de lazer que podem ser otimizados. Os equipamentos naturais, representados pelos parques florestais, por exemplo, promovem diversas opções de lazer aos cidadãos quando os seus recursos são explorados de maneira consciente. No entanto, usufruir de atividades em lagos, trilhas ecológicas e parques públicos em décadas anteriores, seria algo totalmente inacessível e impensado para pessoas idosas, com deficiência ou mobilidade reduzida. Todavia, a passos lentos, essa realidade também está se alterando, não só nos equipamentos naturais dentro da cidade, mas também no seu entorno, como nos espaços de escalada, no montanhismo e nas atividades aquáticas.
SAIBA MAIS
Projetos Inclusivos
Com o auxílio da tecnologia, técnicas e segurança, o projeto inclusivo torna a Escalada Acessível para pessoas com deficiência visual. Acesse e conheça: <https://www.gpm.org.br/pt/quem-somos/ >.
Fonte: Elaborado pela autora
Algumas escolas chegam a desenvolver projetos que visam à inclusão dos alunos aos equipamentos naturais de lazer nos espaços urbanos da cidade, ensinando práticas de preservação ambiental, valorização do meio ambiente e sentimento de pertença à cidade. Além disso, são desenvolvidas propostas e metodologias para o ensino de atividades de aventura. O lazer é um direito social que faz parte das necessidades dos indivíduos. Desse modo, é necessário pensar a acessibilidade dos espaços e equipamentos de lazer na cidade, de maneira a atender a todas as pessoas, a fim de garantir os seus direitos. Por ter caráter revolucionário, o lazer proporciona satisfação, relações de pertencimento, ludicidade e instrução. Para que a equidade, nesse campo, seja possível, é necessário vinculá-la à justiça, e isso propicia uma abordagem que permite igualar as oportunidades para grupos vulneráveis que estão em desvantagem de condições econômicas, sociais, culturais, ou, ainda, desigualdades que abarcam outras esferas (COHEN, 2010).
Porém, os recursos econômicos e humanos não são distribuídos de maneira equânime no mundo; ao contrário: em muitos locais, tais recursos estão concentrados nas cidades, contemplando somente pequenos grupos. O acesso que as cidades oferecem aos centros urbanos, em muitos locais, é precário. Existem grandes barreiras, como distância, infraestrutura de transporte e distribuição espacial dessas cidades. Embora a promoção da acessibilidade esteja contemplada em agendas pelo mundo, ainda existem grandes barreiras de subsistência e de desenvolvimento geral. Um estudo de acessibilidade global, no que concerne ao tempo de viagem gasto para se chegar ao centro da cidade, bem como a realização de um mapeamento para identificar a disparidade na acessibilidade, em relação aos índices de riqueza dos indivíduos, constatou que as estradas são as principais vias condutoras globais de acessibilidade e representam um avanço substancial para estratégias de inclusão em cidades que são ou se pretendem inclusivas (WEISS, ET AL 2018).
Esses dados são relevantes, já que a acessibilidade é essencial para que as pessoas consigam usufruir de programas educacionais, serviços de saúde, serviços bancários e financeiros e visam estreitar distâncias, sugerindo opções de oportunidades para se melhorar a acessibilidade para populações que moram em lugares remotos e reduzir disparidades entre as populações que possuem poucas conectividades de acesso às cidades (WEISS et al. 2018).
A pesquisa foi composta por uma base de dados de 13. 840 áreas urbanas na Ásia Oriental, América do Norte, Sul da Ásia, África Subsaariana, Oriente Médio e Norte da África, América Latina e Caribe, Europa e Ásia Central, entre os anos 2000 a 2015, analisando o tempo de viagem para cidades próximas entre as áreas pesquisadas. O mapeamento da acessibilidade identificou desigualdades no desenvolvimento de infraestrutura. Áreas com bastante acessibilidade são aquelas com abundante infraestrutura de transporte e com desenvolvimento urbano policêntrico (WEISS et al. 2018).
As chamadas cidades inteligentes surgem na tentativa de criar estratégias para o planejamento e gestão inteligente da cidade, utilizando, dentre outros equipamentos, as tecnologias da informação e comunicação como ferramentas para melhorar a saúde, a qualidade de vida, a infraestrutura e os serviços da cidade. Podem contribuir, em muito, com a inclusão, tendo em vista que são pensadas a partir da acessibilidade. Tecnologias como a computação em nuvem, o Big Data e a internet das coisas já são pensadas para melhorar a condição dos espaços urbanos. As tecnologias da comunicação e informação foram incorporadas às cidades como uma proposta de democratização do acesso aos equipamentos tecnológicos e digitais, sendo capaz de propiciar uma participação da população na esfera política, com a intenção de oferecer ao cidadão um maior poder de influência (LEMOS, 2013).
O futuro das cidades está diretamente entrelaçado com o desempenho das inovações tecnológicas. Esse processo envolve a competência de muitos profissionais: engenheiros, arquitetos, professores, acadêmicos, especialistas em tecnologias, técnicos em geral e especialistas em inclusão e acessibilidade para avaliar e compreender as necessidades e características específicas de cada cidade. Como consequência, nas cidades do futuro, a inovação tecnológica tem um importante papel a ser desempenhado, e as tecnologias, dentre elas, as da informação e comunicação, têm a função de encurtar distâncias entre o poder público e os cidadãos por meio de serviços eletrônicos e da internet (WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2017).
Um estudo realizado no Brasil avaliou o atual estágio das seguintes cidades: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. Tal estudo teve como objetivo a materialização do conceito de cidade inteligente. Segundo a pesquisa, o Rio de Janeiro iniciou o seu percurso como cidade inteligente em 2010, com a criação do Centro de Operações (COR), que monitora o cotidiano da cidade 24 horas por dia. O sistema visa respostas à situações emergenciais como chuvas fortes, deslizamentos, condições de mar, tráfego e demais incidentes. Existem, ainda, projetos que visam à acessibilidade digital, como é o caso do Projeto “Rio Digital 15 Minutos”, que criou espaços digitais com redes de Praças e Naves do Conhecimento, com ofertas de cursos de alfabetização digital, tecnologia e comunicação, tecnologia e trabalho, tecnologia e empreendedorismo, curso de Inglês voltado ao turismo, oficina de blogs, Libras, realidade virtual e educação espalhadas por diversas regiões da cidade (WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2017).
Em Porto Alegre, foram instalados semáforos inteligentes, que visam à redução dos engarrafamentos e reduzem a emissão de gases em 7%. Também foram desenvolvidas ações de inclusão digital. No que tange à Curitiba, esta é uma cidade onde o planejamento é uma constante de muitas décadas. Curitiba é considerada um modelo mundial de transporte, urbanização e respeito ao meio ambiente e está entre as 10 cidades mais inteligentes do mundo, utilizando tecnologias para o desenvolvimento sustentável (WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2017).
O crescimento nas áreas urbanas torna os temas relacionados à acessibilidade ainda mais relevantes, devido à necessidade de se atender a um número cada vez mais abrangente de pessoas. Portanto, é necessário que haja uma comunicação entre quem planeja e quem utiliza os espaços urbanos, cidades acessíveis, inclusivas ou inteligentes, independentemente do conceito, pois, cada uma com seus objetivos, devem visar sempre o acesso equânime aos serviços de educação, transporte, saúde e lazer, de maneira a viabilizar a qualidade de vida e práticas cidadãs.